Dani V. D. Linde

 Coordinates N 31° 54′ 0″, E 35° 12′ 0″

Your map was drafted by a chess-playing king

A Holy Land with different degrees of pure sin,

where people can be traded as merchandise –

and genocide?- a lingering possibility.

You want a voice, a respected geography, a past: 

– but the sacred intimacy of your scream,

and your freedom are repeated violated.

You want a family, a job, a routine:

– but you inherited a crusade starved for sacrifice 

and you are wounded in a daily battle. Lifelong

You want to try happiness, to have a future: 

– but your destiny is a note out of tune, 

out of reach, for such sophisticated rights.

Every day rainbows happen:

colorful, encouraging and merciful.

But not in your home; not in your hands. 

– Ah! – 

If only you had a home 

– or hands –

Breve lição de escultura social

Deves manusear

a pedra, o metal e a massa humana

com a liquidez do esquadro:

as estátuas são leves e tridimensionais

mas o preconceito é um baixo relevo pesado

Aprende a cinzelar o futuro, mas não uses cordas

para destronar o tirano:

– Usa livros para educar o oprimido

e ensina-o a conjugar o verbo igualdade:

Eu respeito

Tu respiras

Ele vinha da ira

Eles chegam com medo

numa candeia sem luz

O que desmantelas determina a tua verdade.

Se agitares com raiva uma palavra,

a tua voz será um ângulo rude:

– na esquadria certeira da fragilidade humana

– na fatalidade do quadro social

Lembra-te que branquear a História

é enche-la de sombras e ideias de cor suspeita;

Ser nativo do tempo moderno

não te dá o poder de resgatar

os erros de geografias passadas;

e a fotometria é uma ciência perigosa

Lavra a palavra

– algodão – em ébano sólido

e deixa que ela te ilumine

A génese das multidões – Teoria breve

O Messias,

anunciou uma democracia ecológica

   -(teoricamente variável)-

onde o papel do arroz

é ser biologicamente puro

e economicamente justo.

Os crentes agradeceram

e multiplicaram-se cordeiramente

O Messias pratica a demagogia do dogma:

Os mamíferos amansam e mutiplicam-se.

Eles sabem que precisam de dono ou ditador

      – (tanto faz) –

O segredo é saber esperar um osso gourmet

ou uma coleira socialmente vistosa

O Messias promete trevas modernas.

Tribos de lunáticos ajoelham o olhar – e tremem –

Cheira a diabo e decência queimada

     -(cinza do mesmo fogo)-

Por medo, descem mais um degrau na verdade

e por obediência multiplicam-se

O essencial já pouco importa.

Fundamental, são as multidões fundamentalistas

que se manifestam e multiplicam

  – (rebanhos inocentes ou matilhas assassinas) –

Multidões contra tudo e o seu contrário,

Multidões intolerantes à lactose e à diferença,

Multidões estatisticamente gritantes,

que marcham num só sentido, sem sentido

O Messias inventou um algoritmo

que produz multidões multidisciplinares, 

pluralistas – respeitadoras do individualismo –

Multidões de coração mudo ou tudo,

capazes de gestos cada vez mais radicais

Exausto,

o Messias adormeceu

e sonhou com um paraíso

– sem multidões

Baseado numa História verídica

Portugal,

A parentela dos teus egrégios avós tresmalhou – 

navega num pântano de nepotismo planeado,

onde a prática de habilidades tortas,

vale mais que o exercício de habilitações certas

Portugal,

O teu império, de ampla nobreza e geografia,

limitou-se ao Terreiro do Paço,

onde os varões assinalados, de fama e glória,

se vão da Lei dos homens libertando.

Portugal,

O teu nobre povo, para quem tudo valia a pena,

vive na sombra – noite longa sem luar –

Porque ser honesto exige demasiada coragem.

A nação valente, imortal, é agora este país,

onde reinam a corrupção fácil e a vida difícil.

Portugal,

O Cravo da Boa Esperança murchou –

O destino anda à tua procura,

mas o nevoeiro é demasiado denso,

e nem no canto das sereias se vislumbra

o teu passado em oitava rima

Portugal,

No teu regaço nasceram flores.

Agora,

aumentar a pobreza e a conta bancária

cabem no mesmo verso –

e isso não é uma metáfora –

Apenas a certeza de um colossal embaraço

Dani Van Der Linde

Born with a poetic breath, they first saw their work published at 21 in an independent magazine.

A life shaped by migrations across languages, disciplines, and borders led to a polymathic career—authoring technical manuals, a specialized dictionary, and multilingual texts embraced globally.

Now, their poetry confronts social and planetary urgencies, rejecting myth for modernity: Why sing of gods when the Mediterranean drowns the vulnerable?