o sol que mendiga

anoitece nos braços

a luz que abisma

na centelha da terra

as feridas acorrentam

o caudal que escurece

anoitece nos braços

o sol que mendiga

(Espinho, 27 de janeiro de 2018)

no mar das colmeias

no mar incendeia

o horizonte que floresce

nas brumas

levanta o rosto

e sente o frio

que rodeia o mundo

a cera não se esgota

na casa abandonada

nem a orla suspende

o infinito que perfura

a carne no quintal

a angústia atravessa o sangue

como um pesadelo

triturado na espuma

o pescoço

sofre nas colmeias

(Espinho, 6 de março de 2017)

o guarda sol

o guarda-sol

espera a sua eficácia

revolve as mãos

à procura da manhã

queima a cicatriz:

os olhos dobram o dia

na chuva que ossifica

      –  a terra  –

(Espinho, 6 de março de 2017)

prelúdio

nasce da voz, um prelúdio

o sangue perturba, nas artérias

o azul nos lábios, inveja a sol

olhar na adrenalina

a claridade repousa, o arrepio

a agulha, uma povoação

nas mãos em luz, percorre

a imaginação, enevoada

no chão, abraçamos o mar

navega em candeia:

origem da amplitude.

(Espinho, 4 de março de 2015)

Carlos Vinagre is a poet born in 1988, He is the author of the Poetry books Moluscos de Mântia (2009) and Ranhura (2011). As a poet and thinker his Creativity explores a language with strong images and vitality as well as a strong imagination in the plasticity of the language. He has been a member of the Extrapolar Cultural Association.