Francisco Raposo

Impulsos

Não tive tempo

De me importunar na tua vida

Em diversas cópias de mim.

Não foi por vontade,

Não foi por maldade.

Simplesmente não aconteceu.

Nem furos, nem traços

E nem pedrinhas e conchas.

As ondas levaram tudo

E o mar borrou todo sentimento

Desenhado no meu coração

Que carregava teu nome e o amor

Em palavras que nunca te disse,

Mas estavam lá, onde elas se abastecem

Bem perto da tua pele.

Testemunhadas por milhões de arenitos

Que se deixaram levar no esquecimento

De cada impulso das ondas

Quem batiam em meu coração.

Beijo do Judas

Beijo o futuro com a mente

E rego as flores de esperanças medíocres

Pedra sobre pedra…

E o castelo desmorona em mãos estendidas

Secas, rochosas, esbugalhadas, perecidas.

E o beijo saliva em chuvas

De escravos sem pátria

Na onda do medo e da conquista

Na onda de regresso que nunca mais aconteceu.

(In)existência

Hoje me sinto mais ferro que metal,

Ferrugem que nodou o vazio solar.

Não conduzo mais correntes de alegria,

Nem de dor, e nem de tristeza

Nem de existência e nem de ausência

Sou meio (termo) de nada,

Sem calor.

Sou penumbra e eclipse,

Sou da cor da transparência.

Francisco Rafael José Raposo (known as Favorito) was born in 1997 in the district of Búzi, Sofala Province, Mozambique. He holds a Bachelor’s degree in Clinical and Laboratory Analysis from the Catholic University of Mozambique. From an early age, he wanted to be part of his primary school’s cultural group; since he couldn’t sing or dance, he found refuge in poetry and storytelling — and has never turned back since.

He took part in the 3rd National Exhibition of Young Creators (2013). He contributed to the anthologies “Poemas e Cartas Ridículas de Amor” (2019) and “Construtores de Palavras” (2020), and won the literary contest for chronicles “Memórias do IDAI” (2020). His works have been published in various Mozambican and international blogs, newspapers, and magazines.

He coordinates reading workshops at the Niassa-Mariri Special Reserve and is a member of the Kulemba literary movement, the Beira Book Club, and CEPAN in Niassa.