Ensaio Fotográfico
Onde fica a nossa verdadeira casa? Aquela em que nascemos, e vivemos durante longos vinte e nove anos, ou aquela em cujo destino há um enorme oceano físico, e aquoso, de distâncias, de outros trinta e quatro anos que nos separam da casa primeira? Será o mesmo que perguntar, onde encontra-se a cédula de identidade, que não está na carteira, nos bolsos, ou noutro qualquer ponto geográfico? Que identidade me define? Quem sou entre estas terras que proferem a mesma língua, mas que falsamente dá ares de igualdade, sendo até mesmo antagónicas? Que colónia habita os meus sentimentos?
Perguntas difíceis, e sem respostas simples. No início do milénio escrevi no último verso, do meu primeiro livro Poemas do Dilúvio (Alma Azul/Coimbra): Feliz o homem que nasce, vive e morre na sua terra, só para não sentir que o chão lhe foge debaixo dos pés; só para que a saudade não seja avassaladora como, ciclicamente, é. Escrevia eu que (…) a saudade é mais nítida / E a tristeza é mais viva / E a língua, mesma língua, é estranha /E o fado não é samba (…) Os paraísos divididos / Sempre.
Hoje, após tantos anos de mares e terras navegados, e de algumas pontes aéreas, cada vez que retorno ao gênese, ao país que me viu nascer, um carrossel de emoções instala-se dentro de mim, e o meu olhar, de fotógrafo, de escritor e cidadão, alternam-se entre o conforto de se sentir abraçado, e o vazio e a estranheza de uma terra que já não consigo agarrar com a naturalidade do dia a dia. A distância rouba-nos o cotidiano, que não pode ser reposto. A distância troca-nos as pernas e muda, e redimensiona, o lugar da memória.
Este ensaio fotográfico, a preto e branco, da minha Memória afetiva do lugar, faz justiça a uma tentativa tosca de repor o lugar da memória. Este lugar dos afetos situa-se diretamente à volta da figura da minha mãe, que faleceu em 2019. O ensaio, foi construído neste centro emotivo e, a partir daí, conquistou o que está em seu entorno. É este centro-mãe, o meu território primeiro, o meu país, a cidade natal: o jardim e as suas plantas; a sua máquina de costura, alguma rotina religiosa, a sua mania de colecionar brindes da Coca-Cola; as casas e o comércio locais; o armarinho, e todas as referências imagéticas que aqui encontram-se. Esta Memória afetiva do lugar é o mesmo que dizer MÃE; mãe terra, mãe natureza, mãe para sempre minha.














Ozias Filho, Writer, Photographer, and Book Editor, was born in Rio de Janeiro. He holds a degree in Journalism from Faculdade Hélio Alonso and in Photography from PUC. He also has a postgraduate degree in Editing and New Digital Media from the Universidade Católica Portuguesa.
In 2001, he released the book Poemas do Dilúvio (Flood Poems) through Alma Azul Publishing. He conceived and led several projects at the Casa da América Latina (Lisbon) over a decade, including Uma Hora Com os Poetas (An Hour With the Poets), Noites em Pasárgada (Nights in Pasárgada), and Neruda com Amor (Neruda with Love).
From 1999 to 2011, he was responsible for Editora Vozes in Portugal. In 2013, he published Ar de Arestas (Edges of Air) in collaboration with the poet Iacyr Anderson Freitas. The photographs from this book were exhibited at the Murilo Mendes Museum of Modern Art in Juiz de Fora, Brazil.
In 2017, he participated in the Semana da Poesia Ibero-Americana (Ibero-American Poetry Week) in Lisbon (as well as in the event’s anthology of writers) and in the VI Bienal de Culturas Lusófonas (Lusophone Cultures Biennial), where one of his images from the Shadowless series was featured.
His most recent exhibitions include QUASINVISÍVEL (ALMOST INVISIBLE), part of the Passado Presente – Lisboa Capital Ibero-Americana de Cultura (Past Present – Lisbon Ibero-American Capital of Culture), and, in 2019, at A Pequena Galeria in Lisbon, the series Por estes dias o mar tem dentes (These Days, the Sea Has Teeth).
As a poet, he has published the books O Relógio Avariado de Deus (God’s Broken Clock) with Edições Pasárgada and Texto Território, and Insulares with Livros de Ontem and Editora Jaguatirica, in both Portugal and Brazil. In 2022, he published his first children’s book, Confinados (Confined), illustrated by Nuno Azevedo.
In 2023, he released the poetry collection Os Cavalos Adoram Maçãs (Horses Love Apples) through Urutau Publishing, in both Brazil and Portugal, along with Insanos (Insane) through Edições Húmus. In 2025, he is set to publish another poetry book, O Avesso da Casa (The Reverse of the House) with Urutau Publishing.
He has participated in several literary festivals, including: FOLIO, the International Literary Festival of Óbidos, Ronda Leiria Poetry, Ibero-American Poetry Meeting (Casa da América Latina, Lisbon), Lusophone Writers Meeting (Odivelas), Festival Silêncio (Lisbon), Douro Literary Festival, Ovar Literary Festival, and the Ibero-American Poetry Meetings at the José Saramago Foundation (Lisbon).
He writes a monthly column titled Quem eu vejo quando leio (Who I See When I Read) for Jornal Rascunho, in which he photographs and writes about writers from the Portuguese-speaking literary world.
For more information about the author: Ozias Filho

