Porto

A poesia vai

Pela rua,

Nua.

Esconde-se

Nas manhãs mais

Frias.

E é à noite que lhe foge

A voz.

Lenta

E lenta,

Lentamente,

Até

Desembainhar

Na

F

O

Z

Luz(a) alma

Sossega e vive do ar

A cómoda alma, armário espacial.

Plana e cisma a esmola pintada

Na rua nua e perfumada.

Sonha a universal fundação,

À beira-rio, navio-fantasma e fruição.

Entoa, na guitarra infantil, dramática gente,

Num acorde simples, medieval.

– Ó alma lusa,

Acorda e sente,

Mesmo que à tangente,

O que é ser filha de Portugal.

Hoje acordei com uma andorinha no estômago.

A noite era de tempo limpo e sono.

Sabia a quebra milenar, cabelo solto.

Nenhuma angústia, lei, mato ou víscera defronte.

O prédio seguia o seu curso normal de vida, espécie de abrigo impune.

Gineceu.

Observava sem capacidade estrelada o céu, quando a miúda astronomia me

Espantou a inocência.

A circular impressão se revelara.

Tal como no meu estômago, assim uma via-andorinha, se alongava, qual

fita emprestada, distraidamente, no ar.

Pedro Vale has lived in Funchal since 2002, where he works as a primary school teacher. He earned a degree in Cultural Studies and attended the master’s program in Cultural Management at the University of Madeira. His first book — “Instant Blue” — was released in December 2017.